Carmona deu ontem mais uma conferência de imprensa, sem direito a perguntas note-se, onde candidamente aludiu a si próprio como sendo o bode expiatório do que de pior aconteceu na capital.
O autarca cessante sublinhou os "entraves à governação" que sentiu durante seu breve mandato, apesar de nunca especificar quais (ó espanto!). “Muitas vezes as atitudes com que fui confrontado deixaram-me atónito e até com uma certa vergonha de me ver envolvido em semelhantes jogos de poder e sedução" diz o Sr. Rodrigues. Pois, pois. Era vê-lo a andar pela cidade cheio de vergonha.
Ainda de acordo com o próprio, esses jogos foram de tal forma "bem arquitectados por certas mentes perversas que a sua desmontagem era impossível face ao ruído mediático entretanto conseguido". Ca ganda azar! Planos tão bons, táo bons, tão maquiavélicos, tão perversos e profanos, que eram impossíveis de desmontar. Liguem ao Jack Bauer, por favor.
O autarca afirmou que perante estas "ardilosas construções", em vez de as combater numa "guerra mediática", esperou que "o tempo devolvesse a verdade dos factos", mas admite que se possa ter enganado. "Admite" que se possa ter enganado? O gajo ainda não tem a certeza que se enganou? Admite que "possa" ter enganado? Talvez sim, talvez não? O comportamento do Sr. Rodriques não pode deixar de me causar um certo espanto. Quer dizer, o gajo assiste sentado, em lugar privilegiado, a situações desta amplitude e não faz nada?! Espera que passem para que seja devolvida a verdade dos factos??! Este gajo deve viver noutro planeta, ou então que o canonizem rapidamente que ele deve ser santo.
Ressalvando as devidas proporções, esta atitude é como se Roosevelt e Churchill se tivessem juntado antes da invasão para dizer: "Eh pá, a situação da Europa até tá um bocado má, mas não é preciso intervir, o tempo de certeza que nos vai dar razão, e nos vai devolver a verdade dos factos. Deixa lá estar os alemães que até fazem uma cerveja do caraças."
"Segui talvez erradamente este último caminho" (reparem mais uma vez que é somente talvez, o gajo ainda não tem a certeza), continua o ex-presidente, "convencido de que estava da inutilidade do primeiro, e sobretudo porque não tinha sido eleito para perder tempo em batalhas inúteis e típicas dos que estão na política para aparecer nos jornais e na televisão". Não foi eleito para perder tempo em batalhas inúteis? Então porquê que continuou uma batalha inútil e não se demitiu quando estava à vista de todos o que ia acontecer? E porquê que agora aparece a fazer conferências e mais conferências? É inútil combater contra manobras que visavam removê-lo do lugar? Não percebo.
Honestamente, a este senhor faltam-lhe sobretudo tomates.
Ele quer fazer parte do aparelho, sem fazer parte dele, quer entrar na política e ser apoiado por um partido (cuja filosofia traçada logo de início pelo seu líder é de que nunca apoiaria arguidos em processos para cargos públicos) sem bem entrar nos seus jogos e nos seus meandros, mantendo-se independente. O Sá Fernandes, por exemplo, que é somente vereador, luta contra tudo e contra todos, com razão ou não, mas sem medo, porque está convicto das suas motivações, do seu papel, das suas funções e defende sobretudo o nome da lei e da cidade.
Sr. Rodrigues, vá ao mercado da Ribeira e compre um belo e grande ramo de legumes vermelhos com os quais se faz sumo de tomate, deixe de fazer birrinhas e cresca.
Cresca e desapareça.