31 março 2006

Triste

Regressei ontem de uma semana de férias no Brasil.

País alegre, divertido e de "alto astral" por natureza, o Brasil é para mim o local ideal para descansar e recarregar baterias. Este ano tive um extra absolutamente sublime de poder nadar com golfinhos no seu habitat natural, experiência quase kármica sobretudo quando eles se encontram praticamente ao alcance da mão.

Voltei queimado e pronto para novas batalhas e descobri um país triste. Bastaram dois dias para ver que Portugal está cinzento, os portugueses estão abatidos, descrentes na recuperação, pouco ilusionados com uma reviravolta anunciada que não deixou o nevoeiro sebastianino.

Se verificarmos os números e o nível de vida entre os dois países, presumo (apenas presumo porque eu próprio não os verifiquei) que o Brasil se encontre largos passos atrás deste nosso cantinho à beira mar plantado. O seu povo revela no entanto uma alegria quase inexcedível, uma força fora do comum para levantar o ânimo, uma relativização ímpar dos problemas do dia à dia. "Tudo tranquilo". "Relaxa". Duas expressões ouvidas amiúde.

Penso que aos portugueses falta muito deste espírito, muito desta ponderação dos problemas, saber, verdadeiramente saber e reconhecer, que existem situações bem piores à nossa e que temos que estar felizes pelo que temos no dia à dia.

Talvez assim, aos poucos, consigamos dar a volta por cima.

Alto astral pessoal!

17 março 2006

Revolucíon

Não consigo perceber.

Não consigo perceber como chegámos a este ponto. Um ponto que já vem de longe e que parece não ter retorno.

Em época de crise, de apelos ao aperto de um cinto já de si minguado pelos sucessivos novos buracos, no próprio e no orçamento familiar, de avisos à navegação de que piores dias, ainda piores, estão para vir, fico abismado, estupefacto e revoltado face à apresentação de resultados de algumas das maiores empresas nacionais e internacionais.

Não prezo o comunismo, nem o capitalismo puro, sou mais a favor de uma união do bom senso que existe em ambas. No entanto, não compreendo como é possível a determinadas empresas e conglomerados empresariais voltarem as costas a uma sociedade dormente da dor de tanto estar de joelhos, e pura e simplesmente alhear-se, a abstrair-se do mal que a rodeia sem agir e, pior, contribuir ainda mais para que essa mesma dor aumente e agrave.

A teoria de gerar riqueza para criar emprego, para que esta possa ser redistribuída na sociedade e novamente injectada nas empresas, até tem uma lógica nobre e racionalmente aceitável. Os altos lucros contemporâneos são no entanto muitas vezes atingidos graças a despedimentos, downsizings e layouts e sem existir sequer a capaz redistribuição destes. O capital gerado é partilhado entre a própria empresa e os bolsos de alguns senhores donos do mundo: os accionistas.

Os lucros apresentados pela banca nacional são, para mim, o exemplo mais específico e mais crítico deste fenómeno, sobretudo quando sabemos que o Estado cobre os mesmos com o manto da impunidade legal através de uma isenção ou abatimento de impostos escandalosa e retrógrada que ainda me têm que explicar em que medida é que beneficia o bem comum da nação.

Isto tem de acabar. Qualquer dia rebenta.

Estou revoltado.

13 março 2006

Há prémios e prémios

Tendo recentemente adquirido o último modelo da Ferrari, vi-me na procura do seguro mais adequado para o meu veículo.

Dei por mim a verificar as diversas simulações sempre com um olho naquilo que iria pagar mensalmente, semestralmente ou anualmente. E cheguei à conclusão de que estes gajos dos seguros são tão crápulas e tão hábeis que até modificam o sentido das palavras especificamente para o propósito de enganar, ludibriar, roubar.

Diga-me, para si que está a ler, o que é um "prémio"? “Prémio”, na linguagem comum é aquilo que um gajo ganha, através de concurso ou labor, mas ganha, é uma coisa que lhe é dada, oferecida. Para as nossas amigas seguradoras, no entanto, é exactamente o oposto, é aquilo que temos de pagar. Eu fui ver as simulações e dei por mim a pensar: "ena...este prémio é muita bom!".

"Prémio de seguro"?!?!?!?! O único prémio que te dão é ... nada porque provavelmente no momento em que te espetares vai existir alguma cláusula escondida indicando que aquilo só era válido para as estradas regionais da Guatemala em dia de chuva e 24º à sombra, e como tu não estás na Guatemala...

Nunca percebi também a expressão: "Se tiver um acidente aumentam-me o prémio". ÓPTIMO!! Venham as espetas! Venham elas porque aquilo que eu quero é maiores prémios. É escolher a mala dos 300.000 Euros, é acertar na palavra insondável que o Malato e o seu sorriso de estúpido querem de adivinhemos com 5 indícios imbecis, eu quero prémios maiores!!


Estes gajos dos seguros são mesmo uns criativos do caralho!



"Prémio do seguro".....ainda me rio sozinho com esta.....

03 março 2006

Hey, that's no way to say goodbye

I loved you in the morning, our kisses deep and warm,
your hair upon the pillow like a sleepy golden storm,
yes, many loved before us, I know that we are not new,
in city and in forest they smiled like me and you,
but now it's come to distances and both of us must try,
your eyes are soft with sorrow,
Hey, that's no way to say goodbye.

I'm not looking for another as I wander in my time,
walk me to the corner, our steps will always rhyme
you know my love goes with you as your love stays with me,
it's just the way it changes, like the shoreline and the sea,
but let's not talk of love or chains and things we can't untie,
your eyes are soft with sorrow,
Hey, that's no way to say goodbye.

I loved you in the morning, our kisses deep and warm,
your hair upon the pillow like a sleepy golden storm,
yes many loved before us, I know that we are not new,
in city and in forest they smiled like me and you,
but let's not talk of love or chains and things we can't untie,
your eyes are soft with sorrow,
Hey, that's no way to say goodbye.

Leonard Cohen

01 março 2006

Silêncio

"De todos os que não têm nada a dizer, os mais agradáveis são aqueles que ficam calados"

Coluche

Amigos amigos...

Não sou bom amigo.

Reconheço-o com algum pesar, mas é verdade.

Sou o género de pessoa que não telefona, mas que no fundo tem sempre as mesmas pessoas no seu coração. Algumas pessoas que vou conhecendo entram nesse restrito círculo, mas os que já lá estavam ficam para sempre. Esse círculo, além de toda a família, limita-se a uns quantos amigos dos tempos da faculdade e do liceu e mais um ou dois que apareceram fruto do rumo que a vida leva. Estão sempre dentro de mim.

Claro que parte do problema advém de detestar falar ao telefone, nem sei bem porquê, mas obviamente que isto não explica tudo, aliás não explica quase nada. Parte disto advém também de não mandar muitos e-mails, porque a verdade é que envio cerca de 30 a 50 mails por dia a sócios irados com as condições das cadeiras do Estádio ou com a falta de papel higiénico de qualidade, e que não tenha talvez paciência para as mensagens importantes, aquelas para as quais verdadeiramente deveria ter tempo.

A verdade é que sou muito individualista, o que não significa egoísta, e que tenho uma alta tendência a isolar-me do mundo que me rodeia, uma propensão acentuada para a solidão. Sempre tive. Talvez devido à minha infância que me levou sempre a brincar mais com o meu irmão Rodrigo do que propriamente com colegas do liceu. Talvez por ter saltado de amizades em amizades de cinco em cinco anos, subvertendo a noção de intemporalidade que a palavra "amigo" acaba por ter.

Por outro lado, algumas amizades existem que, afinal, não o são e por baixo da pele de carneiro, revelam autênticos lobos ferozes. Infelizmente já tive essa experiência. Serviu de lição para o futuro, talvez mais uma razão para me isolar e mais um ponto a favor do meu descrédito do Homem enquanto raça. Somos uns animais.

Espero que os meus amigos, e sei que sabem quem são, se sintam como tal e que percebam que por mais tempo que passe o serão sempre.

Um abraço a todos eles, um beijo para elas.