28 abril 2011

Os Mirones

Talvez tenha começado com o 25 de Abril, após anos e anos de repressão, com milhares de pessoas a saírem à rua para ver o que se passava sob o risco de levar com um balázio na bela e curiosa testa.

Talvez tenha começado anos e anos antes quando, em 1910, com a proclamação da República de Portugal, milhares saíram à rua para ver o que se passava.....sob o risco de levar com um balázio na bela e curiosa testa.

Talvez seja mesmo próprio do gene Tuga, mas f
actos são factos: o Tuga é profissional do mironismo.

Onde quer que haja um buraco, um pneu furado, um poste a descair sobre a via, uma árvore em risco de desabar, uma montra com o vidro partido, umas obras com máquinas pesadas, um guindaste periclitante, um afogamento na praia, o que seja, há sempre um ou dois mirones prontos para misteriosamente aparecer no local.

Não fazem muito, não fazem mesmo nada na verdade, não ajudam na busca, na recuperação, na reparação, na salvação, nada mesmo, limitam-se a olhar com ar de entendidos, de engenheiros reformados, de médicos de folga, de mecânicos prestáveis, e falam uns com os outros a especular sobre as origens do incidente. Falam baixinho que é para ninguém os ouvir, com uns leves murmúrios sob lábios semicerrados como quem quer mandar bitaites sem a coragem de os assumir.

Aparecem como cogumelos, como se tivessem um GPS no cerebelo com a indicação imediata de um novo buraco, uma nova obra, um cano rebentado recentemente, e aparecem do nada, como se tivessem acampados ali há décadas a aguardar aquele preciso momento.

Como os Maçons ou a Opus Dei, aposto que deve existir uma clandestina Ordem dos Mirones apostada em que haja sempre alguém em qualquer lugar de menor interesse. Falam entre eles por telefone satélite para não serem alvos de escutas, têm um aperto de mão secreto (três dedos esticados e o anelar para dentro) que só eles sabem executar na perfeição.

O mironismo é para o Tuga como a valsa é para os Austríacos, o samba para os Brasileiros, o queijo para os Suíços, a má-educação para os Franceses ou o snobismo para os Ingleses. Está na sua natureza mais intrínseca.

Dito isto, (e como não sei como acabar este belíssimo texto) vi ali um carro a furar um pneu por isso vou ali e já venho