30 dezembro 2008

O corredor

Para lá e para cá
Para cá e para lá
Da esquerda para a direita
E da direita para a esquerda.

Pés que se arrastam
Suspiros que se desdizem.

Já não corre ninguém neste corredor
Arrasta-se o tempo na pedra fria
Anda-se pesadamente
Sob o fardo de um sopro que teimosamente resiste.


Para cá e para lá
Para lá e para cá.

Ao som rítmico das pantufas que tocam no chão
Como um tambor de jazz intermitente
Com palhetas de alegria
E batidas de mágoa.

Onde outrora corriam crianças
Corre agora uma leve brisa
Com cheiro a remédios
Sons de súplicas
E uma cor que se esbate.

O corredor permanece
Intacto
Frio
Infinito.

Para lá e para cá
Para cá e para lá.

22 dezembro 2008

Merry X Mas


17 dezembro 2008

Ode à política nacional e à crise financeira.

Joseh era Rei de um país muito distante, repleto de flores, mar azul e campos verdejantes chamado Thugasvargegaard. Um dia, após anos e anos de labor dos seus súbditos decidiu guardar o dinheiro que tinha acumulado para não tentar os ladrões da floresta encantada.
Mandou cavar um buraco. Durante algum tempo cavou, cavou, cavou até achar que o buraco era suficientemente fundo para lá pôr uns belos milhões. Observou, confortado de que tudo estava bem, virou as costas e foi-se entretendo com outras coisas, sem no entanto se esquecer de deixar lá umas pessoas a guardar a grande maquia, quatro honrosos e valentes cavaleiros a quem deu o nome de "banqueiros". Como mesmo assim não tinha muita confiança neles, e era muito muito dinheiro, decidiu pôr outras pessoas para que, escondidos por trás dos arbustos dos bosques, estivessem sempre de olho nos banqueiros, chamou-os “reguladores”.
No seu dia-a-dia Joseh dizia a toda gente que não tinha dinheiro, que era um coitadinho, que não podia aumentar ninguém, que precisava que o compreendessem, do empenho de todos, fazendo acreditar que a situação estava mesmo muito má. De vez em quando reunia-se com a nobreza e o clero em jantares e comesainhas e riam-se do seu povo, riam-se muito. Um belo dia, quando de terras longícuas vinham negras notícias, decidiu ir verificar se o dinheiro estava bem e, para seu grande espanto, não estava lá nada. Nada senão o vazio escuro do buraco e o eco que invariavelmente lhe respondia.
Primeiro perguntou aos reguladores o que tinha sucedido, e estes confessaram que tinham adormecido durante muito tempo e que não sabiam como o dinheiro tinha desaparecido. Disseram-lhe também que, cansados de estar por trás dos arbustros, tinham começado a jogar às cartas Célticas com os banqueiros para se entreterem e que agora eram amigos. Perguntou depois aos banqueiros o que tinha acontecido e disseram-lhe, vestidos agora com vestes luxuosas e douradas, que era um fenómeno espantoso que estava a acontecer em todo lado, uma magia negra certamente, um feitiço de outro mundo, até sabiam de casos em que o buraco tinha ficado ainda mais fundo e que a única solução que tinham encontrado era voltar a pôr dinheiro no buraco, não havia mais nada a fazer. Desta vez iriam certamente olhar com mais atenção para o dinheiro do Rei.
Pensou. Pensou muito, raciocínios a fio, fluxos de pensamento, avaliando a história do seu País e dos seus antepassados regentes, o peso da decisão que teria de tomar e, um minuto depois, respondeu que estava bem que voltava a pôr lá uns quantos milhões, vinte mil milhões para ser mais preciso. E pôs, para espanto dos habitantes de Thugasvargegaard que acreditavam que Joseh estava sem dinheiro, mas desta vez pediu aos banqueiros para terem mais cuidado, vá lá, e para os reguladores não adormecerem tanto em serviço e não serem amigos dos banqueiros, vá lá.
E viveram (quase) todos felizes para sempre na bela, solarenga e encantada Thugasvargegaard.
Tenham juízo.

15 dezembro 2008

A boa acção de Natal

Para mim, e cada vez mais, o Natal é sobretudo para pensar nos outros, nos menos afortunados e desprotegidos. Muitas das pessoas que igualmente têm esse espírito natalício, e igualmente durante todo o ano, fazem-no sobretudo a pensar nas crianças, nos idosos, nos seres humanos mais carenciados o que é de louvar.

Eu prefiro pensar nos animais, sobretudo porque existem poucas pessoas a pensar neles. É pena, mas é mesmo assim. Muitas associações dedicam-se a recolher cães e gatos abandonados, a tratá-los, a vaciná-los e a dá-los. Muito pouco apoio recebem, para não dizer nenhum e a maior parte das vezes não conseguem dar os animais que se vão acumulando em condições menos nobres.

Este ano preferi pensar na causa e não no efeito, por isso contribuí para a Associação Animais de Rua que se dedica sobretudo à esterilização dos animais de rua, parando a proliferação de diversos animais que serão invariavelmente deixados à sua própria malfadada sorte.

Peço-vos para passarem por aqui http://www.animaisderua.org/loja e que comprem os peluches que nós doámos à associação para angariar dinheiro. Se não quizerem comprem outra coisa porque a mais pequena ajuda é sempre bem vinda e os preços vão dos 1,5 Euros aos 350 Euros.

Façam-no, peço-vos, porque sinceramente não nos custa muito e ajuda muitíssimo.

12 dezembro 2008

Just an act

Quando forem a New York não percam o meu espectáculo ao vivo, até 23 Dezembro.

11 dezembro 2008

Está quase

Carlos Silvino: 167 crimes de natureza sexual cometidos pelo ex-motorista da Casa Pia.
Manuel Abrantes: 16 crimes - 15 crimes de abuso sexual de menores e 1 de peculato de uso.
Hugo Marçal: 23 crimes - 19 crimes de lenocínio (favorecimento de prostituição) e 4 de abuso sexual.
Carlos Cruz: 4 crimes - 3 crimes de abuso sexual e 1 de acto sexual com adolescente
Jorge Ritto: 8 crimes de abuso sexual.
Ferreira Diniz: 12 crimes de abuso sexual de ex-alunos menores da Casa Pia de Lisboa.
Gertrudes Nunes: 26 crimes - 26 crimes de lenocínio, a sua casa foi usada pelos outros arguidos para os abusos sexuais.

Foi o que o Ministério Público deu como provado.

Espero que apodreçam todos lá dentro.

04 dezembro 2008

O que queres ser quando fores grande?

Nunca pensei verdadeiramente no que queria ser quando fosse grande. Nunca tive um destino iluminado que me guiasse, que me movesse, que me levasse pela mão uns passos mais à frente.
Não servem de muito de qualquer forma, essas ideias, esses pensamentos, porque no fundo não somos aquilo que fazemos, antes aquilo que sentimos, aquilo que vamos construindo e aquilo que deixamos para trás. Por isso ainda hoje continuo a pensar e provavelmente nunca deixarei de o fazer. A pensar no que quero ser quando fôr grande, verdadeiramente grande, porque a nossa grandeza não tem momento próprio, não tem idade nem tempo. Pode surgir a qualquer momento, pode já ter aparecido, pode infelizmente nunca aparecer.
Quando era pequeno sonhava.
Sonhava em ser algo maior, melhor, mais completo. Sonhava com o riso dos outros, com o meu próprio riso, com momentos de alegria e felicidade. Sonhava com a pureza do ser humano, sonhava em continuar a sonhar. Sempre. Olhava para as nuvens e sorria. Como o estrangeiro de Baudelaire pensava “Qu'aimes-tu donc, extraordinaire étranger? J’aime les nuages... les nuages qui passent... là-bas... là-bas... les merveilleux nuages“. Ainda hoje olho para as nuvens e ainda hoje me sinto um estrangeiro dentro de mim.
O sonho, o verdadeiro sonho, comanda a vida, não o pensamento abstracto, audaz e solitário. Como viver então se já não existe esse sonho, ou se simplesmente nunca existiu? É difícil, requer empenho, dedicação, esforço e determinação para continuar o caminho, um caminho sem brilho, sem luz, que vive e permanece na penumbra dos outros. Porque a luz é escassa do outro lado da estrada.
Quando fôr grande quero continuar a sonhar, continuar a pensar em ser grande e talvez, talvez, ter um verdadeiro objectivo, genuíno e determinante, que me mova e reconforte, além do sonho eterno de ser feliz.