31 janeiro 2008

A casa a mexer

Não sei em que países é que estes gajos da Vodafone vivem, mas em Portugal não é de certeza.

Relvados tratados com cuidado, vivendas enormes para toda a família, piscinas em todas as casas, ruas impecavel e imaculadamente asfaltadas, isto é o Portugal profundo? Hão de me dizer em que parte do território nacional é que isto se passa porque fiquei deveras curioso.

Estou mesmo a imaginar o troglodita desdentado de Aveiro de Baixo ou de Olhão de Cima no seu T0+1 plantado no meio do project social lá do sítio a rever-se neste tipo de anúncios. Se lhe garantissem que o apartamento insalubre dele, com água a pingar pelas paredes e a sua varanda infestada de fezes de pássaros, se transformasse nesta casa se ele o "pusesse a mexer", talvez aí ele aderisse.
E já agora o que é que é feito das outras casas? Emigraram para a Roménia? Mexeram-se para onde? E os propietários abandonaram assim os carros? Foram a pé? É o exodus? O apocalipse? Este gajo agora vive no meio do deserto? É a margem sul?

29 janeiro 2008

What the blind man saw

As I was walkin' up the stair,

I saw a man who wasn't there .

He wasn't there again today,

Oh how I wish he'd go away.

04 janeiro 2008

Obama nas alturas

No caucus democrático de ontem à noite no Iowa saiu surpreendentemente vencedor o Senador do Estado de Illinois: Barack Obama. Este homem é para mim, acima de tudo, uma grande incógnita.
Com um discurso recheado de citações de grandes líderes políticos e espirituais norte-americanos, nada do que eu vi ou ouvi até ontem revelou uma verdadeira substância de estadista, uma autêntica fibra de político de ideias concretas e objectivas, estrutura real para Presidente dos Estados Unidos da América. Isso asusta-me um bocado.
Discursos fantásticos que mereciam pertencer a livros, emoção sustentada na esperança renovada do american dream, um sentido de momento histórico baseado no místicismo do urgency of now, ideais reavivados de uma américa próspera e pacífica, e sobretudo o apoio de peso da Oprah Winfrey podem ser poéticos, dourados e sedutores, mas tudo contado redudam num vazio de verdadeiras propostas, um deserto de medidas concretas a adoptar, uma inocuidade realística e racional.
Com Hillary Clinton mantêm-se apesar de tudo as minhas dúvidas, mas pelo menos aí teríamos a certeza de que a Presidente teria um consultor privilegiado: o Bill. A eleição para Presidente da actual Senadora do Estado de Nova Iorque seria uma espécie de 2 em 1 da política, sendo que o 2 neste caso é tão somente um dos melhores presidente americanos da história. A isso chama-se garantias, certezas, e nada melhor do que isto para governar um país. Citando o Lt. Col. Slade no famoso discurso do Scent of a Woman: "Now that's the stuff leaders should be made of."
Obama diz, e bem, que sendo um negro com aquele nome estranho não tem nada a perder a não ser acreditar no sonho, mas será que o sonho acredita nele? Parece que sim. No meu entender é o reflexo de um país que caiu em descrença de si próprio após uma ruinosa e demasiado longa governação bushista que leva os eleitores a acreditarem mais num "D.Sebastian" local com a mensagem reformista de mudança do que numa Senadora que, apesar de tudo, se enquadra demasiado num perfil de status quo político há muito instalado.
Vamos ter luta até ao fim no partido democrático e, tirando desta análise o pouco provável Edwards, iremos pelos vistos presenciar um momento na história: um Presidente negro ou mulher. Uma certeza temos: pior do que aquele que lá está é impossível.

02 janeiro 2008

The traveller