27 agosto 2009

O gajo ouvia isto?

Muitas vezes vou no carro a ouvir música bem alto e dou por mim a pensar: e se me espetar agora? E se morrer e a música continuar a tocar?
Sei que não é um pensamento reconfortante, nem tão pouco profundo para dizer a verdade, mas o facto de pensar que a banda sonora que me definirá será alguma música foleira que por acaso até gosto e que por acaso até estava a ouvir naquele momento é algo que me assusta e assombra.
Não imagino o desastre em sim, antes o meu corpo inerte, pessoas a aproximarem-se e o "Cu Cu Ru Cu Cu" do Julio Iglesias a tocar em fundo, bem alto. Se fosse eu desatava-me a rir.
Não dá.
Esses vultos desconhecidos pensariam automaticamente: "o gajo ouvia isto? Foda-se, que foleirada". Secretamente até deixariam escapar um "porra, não se perde nada".
Pior é pensar que são amigos ou conhecidos que se debruçam sobre mim. Eu que até sou um gajo ecléctico, imagino o largo sorriso perante o meu corpo ensanguentado ao som do "She's all I ever had" do Ricky Martin. Nesse momento julgo que as minhas derradeiras forças seriam para tentar alcançar o rádio e mudar de música para algo que melhor me definisse ou algo mais "in" tipo Radiohead, Lenny Kravitz, Bob Marley ou qualquer coisa do género.
Inevitavalmente é o que acabo por fazer, ainda em vida e regressando à realidade. Mudo de faixa, pelo sim pelo não. Não vá morrer na próxima esquina e a memória que deixe ser o "Rock me Amadeus" do Falco.
Eu sei que sou doente.