09 julho 2010

Slow motion

Às vezes parece que outrora tudo era mais lento, mais leve, talvez somente mais simples e único. Os próprios sons que nos rodeiam, os ritmos da vida, os compassos da nova era são mais acelerados, menos definidos, semelhantes a tantos outros.

No tempo dos slows, em que o tempo passava, só Deus sabe porquê, mais devagar, os momentos agarravam-se por entre os murmúrios dos braços que se cruzavam na penumbra. Cada instante era único, cada suspiro era o último e cada beijo era uma novidade.

Já não há slows.

Já não há almas apaixonadas que se abraçam no escuro ao som de músicas lamechas e doces. Jão não se sentem os corpos colados um ao outro, separados somente pelo rubor da adolescência. Já não há os beijos ternos quando o som se esbatia lentamente.

Slow motion, é como tudo deveria ser

07 julho 2010

Aninhas



Na segunda-feira passada a Aninhas deixou-nos.
A Aninhas era uma cadela de rua que foi recolhida há alguns anos.
Andava escondida nos átrios dos prédios de Miraflores, ora abrigando-se do sol e do calor, ora protegendo-se da chuva e do frio, alimentando-se verdadeiramente daquilo que Deus lhe providênciava. A Luisa começou a alimentá-la com alguma regularidade e o meu Pai a acompanhá-la enquanto passeava o nosso outro cão, o Pipas. Naturalmente, porque o coração assim manda, acabou por ser adoptada.
Chegou lá a casa com os receios dos cães maltratados que sempre lutaram para fazer deste mundo também o seu lugar, apesar das agruras da vida, apesar da maldade dos homens, apesar de tudo indicar que a mera sobrevivência não era sequer opção. Assustada, escondida, apreensiva e carente. Olhava para nós com uns olhos de mel cheios de ternura como que a agradecer a gentileza e na esperança que não fosse por pouco tempo.
Foi até sempre.
Está agora certamente num lugar bom, a brincar com a Bouboulle e com o Tobias e comer todos os ossos que já não podia comer.
Até já Aninhas.

06 julho 2010

Gosto de graffitis