26 outubro 2010

To Grandma

Avó,

Não me recordo bem de si.


Ainda no Domingo passado nos deixou e não me recordo bem de si.


A Avó não era daquelas Avós carinhosas como se vê nos filmes lamechas ou se lê nos livros infantis. Aquelas Avós que fazem bolos, com quem se fica frequentemente, que leva os netos a passear quando o tempo a isso convida ou segreda cantigas de embalar para adormecer os netos. Era antes daquelas Avós algo distantes e frias que proclamava para si o melhor lugar e exigia de nós total empenho e carinho quando por sua vez não o dava de volta ou, no mínimo, não o sabia transmitir. Lembro-me de a visitar em casa e de jogarmos ao mikado com o Avô enquanto a Avó conversava com a Mãe, jogava paciência ou pintava as unhas. Lembro-me dos nossos almoços de quando em vez, mas algures no tempo, infelizmente, as visitas a sua casa passaram de ser uma vontade expressa para se tornarem uma tarefa involuntária.


No fundo não sei quase nada de si, pouco me contou, quase nada partilhou e deixou-nos sem saber muito de mim também, talvez mesmo nada. Não conheço a sua cor favorita, o melhor livro que leu ou filme que viu, qual a sua melhor memória e qual a pior, quem foi o seu primeiro namorado, como foi o nascimento da minha Mãe, o abandono do meu Avô, nada. Talvez seja culpa minha também, não saberemos mais.


No fundo até a compreendo. Quando o Avô a deixou, eram a minha Mãe e o meu Tio pequenos ainda, teve de alguma forma aguentar a família. Teve que seguir em frente, ser forte, ser impassível, não perdoar mais. Gostava de ter sabido como o fez, não deve ter sido fácil naquela altura, os tempos eram outros. Esse período talvez tenha moldado a sua maneira de ser, a sua maneira de agir e reagir. Talvez tenha começado aí essa sua frieza. Apesar de algum distanciamento era com alegria, penso que genuína, que nos recebia em sua casa agora que se aproximava o fim.


Foi-se embora teimosa.


Sei que os últimos tempos não foram bons para si, antes pelo contrário, mas por entre tormentos e lamentos penso que terá encontrado o seu próprio caminho de perdão. Gostava muito de ter ficado com outras memórias de si, outros momentos, outras convicções, mais abraços, mais ternura. Talvez o tempo revele outras histórias que me iluminem de alguma forma.


Não me lembro de si, mas vou ter saudades suas.


Beijinhos Avó, até sempre.

06 outubro 2010

Mina


Fazes hoje um ano minha querida Mina.

Infelizmente, porque as andanças da minha irmã, tua Mãe, assim o ditam, não posso estar contigo hoje. Estive aí o ano passado a ver se te via nascer, mas foste teimosa e só saíste uma semana depois de eu partir. Essa teimosia sei a quem sai, é um pouco de família.


Entretanto soube que me quiseram como teu Padrinho. Erro crasso...ahahah! Fora de brincadeiras, nada me orgulha mais do que sê-lo.


Queria poder agarrar-te hoje e dizer-te silenciosamente ao ouvido que te amo, mesmo assim ao longe, que significas muito para mim, apesar de praticamente não me conheceres. A tua Mãe que te conte, eu até sou um gajo porreiro, e ia fazer-te rir de certeza, brincar muito contigo e ensinar-te a dizer "Tio Gonçalo".


Espero que as nossas vidas se cruzem mais vezes, eu que viajo pouco e tu que viajas muito, e que consiga ver ao vivo o teu sorriso, partilhar as tuas brincadeiras, abraçar-te, olhar para ti e tentar vislumbrar as parecenças familiares.


Até logo Mina.


Que tenhas um fantástico dia neste teu primeiro aniversário, muitos e muitos mais virão certamente. Conto estar contigo na maior parte deles.


Beijos grande do Padrinho.