17 dezembro 2008

Ode à política nacional e à crise financeira.

Joseh era Rei de um país muito distante, repleto de flores, mar azul e campos verdejantes chamado Thugasvargegaard. Um dia, após anos e anos de labor dos seus súbditos decidiu guardar o dinheiro que tinha acumulado para não tentar os ladrões da floresta encantada.
Mandou cavar um buraco. Durante algum tempo cavou, cavou, cavou até achar que o buraco era suficientemente fundo para lá pôr uns belos milhões. Observou, confortado de que tudo estava bem, virou as costas e foi-se entretendo com outras coisas, sem no entanto se esquecer de deixar lá umas pessoas a guardar a grande maquia, quatro honrosos e valentes cavaleiros a quem deu o nome de "banqueiros". Como mesmo assim não tinha muita confiança neles, e era muito muito dinheiro, decidiu pôr outras pessoas para que, escondidos por trás dos arbustos dos bosques, estivessem sempre de olho nos banqueiros, chamou-os “reguladores”.
No seu dia-a-dia Joseh dizia a toda gente que não tinha dinheiro, que era um coitadinho, que não podia aumentar ninguém, que precisava que o compreendessem, do empenho de todos, fazendo acreditar que a situação estava mesmo muito má. De vez em quando reunia-se com a nobreza e o clero em jantares e comesainhas e riam-se do seu povo, riam-se muito. Um belo dia, quando de terras longícuas vinham negras notícias, decidiu ir verificar se o dinheiro estava bem e, para seu grande espanto, não estava lá nada. Nada senão o vazio escuro do buraco e o eco que invariavelmente lhe respondia.
Primeiro perguntou aos reguladores o que tinha sucedido, e estes confessaram que tinham adormecido durante muito tempo e que não sabiam como o dinheiro tinha desaparecido. Disseram-lhe também que, cansados de estar por trás dos arbustros, tinham começado a jogar às cartas Célticas com os banqueiros para se entreterem e que agora eram amigos. Perguntou depois aos banqueiros o que tinha acontecido e disseram-lhe, vestidos agora com vestes luxuosas e douradas, que era um fenómeno espantoso que estava a acontecer em todo lado, uma magia negra certamente, um feitiço de outro mundo, até sabiam de casos em que o buraco tinha ficado ainda mais fundo e que a única solução que tinham encontrado era voltar a pôr dinheiro no buraco, não havia mais nada a fazer. Desta vez iriam certamente olhar com mais atenção para o dinheiro do Rei.
Pensou. Pensou muito, raciocínios a fio, fluxos de pensamento, avaliando a história do seu País e dos seus antepassados regentes, o peso da decisão que teria de tomar e, um minuto depois, respondeu que estava bem que voltava a pôr lá uns quantos milhões, vinte mil milhões para ser mais preciso. E pôs, para espanto dos habitantes de Thugasvargegaard que acreditavam que Joseh estava sem dinheiro, mas desta vez pediu aos banqueiros para terem mais cuidado, vá lá, e para os reguladores não adormecerem tanto em serviço e não serem amigos dos banqueiros, vá lá.
E viveram (quase) todos felizes para sempre na bela, solarenga e encantada Thugasvargegaard.
Tenham juízo.