Now you will learn about loss
O grande problema para mim, são as separações ou divórcios que metem filhos pelo meio. Sei por experiência de amigos meus, que quando a separação se avizinha, tudo fazem para defender interesses próprios, beliscando amiúde o próprio bem-estar dos filhos. Se os amores foram fortes e súbitos, os ódios são viscerais e ilimitados. Às tantas as duas pessoas interrogam-se mesmo como é que alguma vez amaram aquele ser, prometeram-lhe juras de amor eterno, partilharam momentos de paixão, riram-se juntos e pensaram talvez “é o amor da minha vida”. Como?
Quando o tribunal se apodera do caso, esta união, esta pequena família, não representa mais do que um dossier na pilha da esquerda, num amontoado de dor que cresce dia após dia. O pó instala-se nas páginas acastanhadas da mesma forma que se apodera pouco a pouco da relação. No meio disto, o juiz nem sempre decide correctamente, nem sempre sabe sequer como decidir, por ele talvez até deixasse o filho com o Pai, mas ele trabalha demasiado e não tem tempo para ele, talvez o deixasse com a Mãe, mas ela está mentalmente instável e afecta a apregoada estabilidade da criança, talvez a guarda conjunta seja a solução mas o casal está em litígio pela posse do carro, da casa, do candeeiro que compraram em Paris e do tapete Marroquino, como será com o filho? Por vezes o ponto da discórdia nem sequer é a guarda, é o valor da pensão e entre a súbita pobreza do Pai e as exigências excessivas da Mãe, ou vice-versa, o juiz tem que trilhar o árduo caminho da justiça injusta.
As Mães em Portugal acabam sempre por ter noventa por cento de hipóteses de ficar com a criança, mesmo que o Pai até lhe proporcione mais segurança e conforto. Não consigo sequer imaginar-me a querer estar com um filho e não poder. A querer partilhar os sorrisos de fim de noite e não poder. Dar-lhe o derradeiro e reconfortante beijinho sem o qual ele não adormece e somente encontrar uma almofada deserta com a brisa do seu perfume.
