09 janeiro 2009
Parece-me óbvio que, passados tantos anos de crise controlada ou disfarçada, tantos anos em que os estratos sociais mais baixos sentiram na pele as agruras da sua própria condição, a crise havia de tocar aos ricos.
A problemática que para mim se coloca é que, ao invés do frio manto que cobre os pobres ou menos afortunados, os ricos e influentes tapam-se com edredons dourados e cobertores de seda. Para uns é reservado o miserabilismo, o apertar contínuo do cinto, o deixar de pagar os remédios ou de comprar carne, para outros traçam-se planos de salvação económica.
A crise para os ricos é deixar de jantar nos restaurantes mais caros e passar para outros mais em conta, mas não deixar de o fazer. É comprar menos roupa, mas continuar a fazê-lo. É vender um dos carros e ficar com os outros dois. É talvez vender o barco à vela ou a mota de água. É dispensar um dos empregados.
Não tenho pena deles.
Muitos andaram a enriquecer à conta de uma especulação capitalista desenfreada, deixada à toa, sem regras claras, apregoando os benefícios e os valores de um sistema deficiente que promove as diferenças e as acentua. Foi o que se viu e se vê: o capitalismo morreu no final de 2008. Madoffs e companhia podem ficar pobres? Duvido, quanto muito ficam menos ricos. E enquanto o ladrão que rouba cinco mil euros ao merceeiro vai para a prisão, o milionário que perde cinquenta mil milhões fica em prisão domiciliária. É uma questão de zeros, bastantes zeros.
Os pobres não têm influência, não conhecem ninguém, somente outros pobres que como eles lutam para sobreviver, muitas vezes para saber se no fim do dia podem dar de comer aos filhos. Os ricos preocupam-se com o golfe ao fim-de-semana, o negócio que corre menos bem e que carro hão de oferecer aos filhos que fizeram dezoito anos. Os pobres olham para os bolsos vazios e observam o que não têm, os ricos olham para gráficos e observam o que perderam.
Não tenho pena dos ricos que agora se suicidam porque perderam tudo e deixaram de lutar, tenho pena dos outros que, apesar de nunca terem tido nada, continuam a fazê-lo.
7 Comments:
Coincidência ou talvez não mas agora dei uma boa gargalhada, postei hoje um pequenino post sobre o mesmo tema...:-)
O humor anarca e devastador de que "mais vale ser rico e ter saúde do que pobre e doente" não merece decerto a simpatia de quem é de facto pobre e doente.
Não estou assim tão certo de que o capitalismo tenha acabado em 2008...é também nos momentos de crise que se fazem grandes fortunas...parece que o homem que já é o mais rico do Mundo anda a tratar disso, comprando "metade da América" por tuta e meia...
O capitalismo só morrerá quando o Homem pensar segundo os interesses da comunidade e não dos seus...o que não está decerto para acontecer amanhã...
O sistema de valores que impera hoje à escala planetária mais facilmente conduz ao aparecimento de (novos) ricos do que à criação de uma sociedade mais justa, equilibrada, em que cada pessoa possa viver em harmonia consigo e com o Outro, qualquer que ele seja.
Nunca é tarde para reinventar o Sonho, basta ler o "Petir Prince" de novo...
o capitalismo não morreu, mas levou um sério rombo.talvez um capitalismo social seja a solução...
só uma pessoa muito limitada para ser rica e infeliz, a não ser lá está, que não tenha saúde para desfrutar.
em tempo de crise há sempre que faça fortunas.
Os ricos que paguem a crise!
Lol
a gi continua comuna!
cat(droite)
A mim mete-me impressão que empresas, nomeadamente os Bancos, que andaram anos e anos a apresentar lucros absolutamente obscenos num primeiro ano que apresentam prejuízos é um ver se te avias...
O Deutsch Bank apresentou em 2008 cerca de 5 mil milhões de prejuízos e andam a rolar cabeças e pede-se ajuda ao governo alemão, mas em 2006 apresentou lucros de 6 mil milhões. O que aconteceu ao dinheiro porra?!!?!?!
Concordo com muito do que escreves...
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