28 julho 2008

Serviçais

Olham sempre para a frente, olham sempre para tudo, para os mais ínfimos pormenores, para a mais recôndita falha, olham com olhos acostumados a não serem olhados, conformados à invisibilidade dos seus seres.
São as pessoas que nos servem, no nosso dia-a-dia, no nosso tempo fugaz, nos nossos devaneios, nas nossas deslocações, nos nossos passeios, na nossa vida. Trabalham em cafés, em quiosques de jornais, em autocarros, em camiões, em restaurantes, na rua a limpar o nosso lixo, em bares, em estacionamentos, em táxis, em eléctricos, em repartições, em esquadras, em ambulâncias, em portarias, em todo lado. É a legião invisível que nos carrega, que nos sustenta, que nos empurra. São os filhos indesejados de Deus, sem lugar ou propósito*, militares que marcham à cadência que impõem à própria sociedade e a quem medem constantemente o pulsar fervoroso e inquieto.
Acordam antes de todos nós, cedo demais. Deitam-se depois de todos nós, tarde demais. Talvez por isso passem por esta vida de forma invisível, eles que olham para o mundo que vive à sua frente sem nunca baixar os olhos. São os serviçais dos tempos modernos.
Olhem para eles de vez em quando, dirijam-lhes algumas palavras de simpatia e compreensão e vão ver que do outro lado um sorriso lhes iluminará o dia. O deles e o vosso.
* Fight Club