16 junho 2009
Depois do homem do lixo, temos "Bictor, o naif".
O Sr. Constâncio, governador do Banco de Portugal, revelou agora à comissão de inquérito parlamentar que pode ter existido "alguma ingenuidade" por parte do supervisor na avaliação que fez do Banco Português de Negócios. Pois.
Caríssimo senhor, ingenuidade é outra coisa. É colocar roupa vermelha com roupa branca na máquina, é atravessar a passadeira à confiança, não é certamente falhar na simples e quase exclusiva tarefa que lhe é atribuída de supervisionar o mundo da Banca em Portugal. Para a próxima, quando falhar rotundamente um projecto vou dizer ao meu patrão, "pois, acho que houve alguma ingenuidade da minha equipa", pode ser que ele vá na conversa, pode ser que, à semelhança do que lhe está a acontecer, não haja qualquer consequência.
Bictor, num tom mais tranquilo desta vez, disse ainda que as perdas para o contribuinte não deverão ultrapassar os mil milhões de euros. Valor certamente inócuo para sim, mas convenhamos que é algo volumoso. Pelo menos é um valor que dava para construir alguns hospitais, algumas escolas, alojar muitas famílias e empregar muitos desempregados. Pense nisso.
Interrogado pelos deputados, o Governador considerou "de detalhe" algumas questões colocadas às quais não tem "obrigação de responder" por serem aspectos demasiado técnicos e para os quais, em alguns casos, desconhece a resposta.
Aqui dois pontos graves, caro Gov.
Primeiro, recusar responder a certas perguntas, sejam elas de "detalhe" ou não, colocadas por deputados, em representação do povo português, é uma afronta à própria comissão de inquérito e uma ofensa a todos os portugueses. Parece-me óbvio que o senhor tem sim obrigação de responder a todas as questões que nós, cidadãos, lhe colocamos sobre este assunto.
Segundo, desconhecer a resposta às mesmas é afirmar aquilo que todos já suspeitamos por esta altura. Que o senhor não serve para a posição que ocupa. Além de ingénuo e naif, revela-se igualmente ignorante.
Depois desta segunda averiguação ficámos também a saber que a supervisão, aos olhos do Bictor, é mais uma protecção do que outra coisa.
E isso não é bom.
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