29 maio 2008

A outra face da solidariedade

Um relatório divulgado ontem pela organização Save the Children revela que centenas de crianças em zonas de conflito têm sido vítimas de abusos sexuais por elementos das missões de paz das Nações Unidas e de organizações não governamentais. Uma autêntica vergonha para organizações e instituições cuja principal função é manter a paz, a solidariedade e proteger as populações locais, nomeadamente, e sobretudo, as crianças.
Na maior parte dos casos as vítimas são órfãos (lembrando o infindável processo da Casa Pia) estão separadas dos familiares directos ou integram famílias que dependem da assistência humanitária para sobreviver. Têm entre os quatorze e os dezasseis anos, mas há relatórios de casos de abuso sexual envolvendo rapazes e raparigas de seis.
Os abusadores aliciam as crianças a troco de comida, uns míseros chocolates às vezes, dinheiro (num dos casos relatados foram dados 100 gourdes haitianos que equivalem a 1,63 euros), telemóveis e até mesmo sabonetes. Sabonetes!
Este é o género de notícia que me dá vómitos imediatos, que me repulsa, me enoja e me remete muitas vezes à triste realidade que é o ser humano. Este tipo de crimes merecia, na minha opinião, penas perpétuas, sem excepções, sem contemplações, sem simpatias, sem atenuantes. Abusar de qualquer pessoa já é ofensivo, abusar de crianças é vergonhoso, abusar de crianças que vivem e sobrevivem nestas condições, aproveitando para benefício sexual directo do seu modo de vida crítico e calamitoso já revela requintes de malvadez pura. Só pessoas verdadeiramente vis são capazes de praticar actos desta natureza.
E no fim sobra a infeliz certeza de que, mesmo que estes animais paguem o preço imposto pela justiça pelas suas ofensas, este será sempre menor do que a perca da inocência, o terminar da pureza, das vítimas e nunca alguma vez corresponderá ao peso que os seus crimes terão certamente no futuro das crianças abusadas. Essas serão provavelmente deixadas na mesma, ao abandono constante das suas adversas realidades.

1 Comments:

Blogger Bluedog said...

Será que o J.P. Sartre sentiu o mesmo quando escreveu "A náusea" ?
Em contraponto, a alegria de salvar uma menina presa nos escombros de uma casa ao fim de uma luta de muitos dias, para a trazer a este mesmo Mundo onde "soldados da paz" violam crianças. NOJO !!!

10:05  

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