18 abril 2008

Carta aberta ao meu irmão.

Rodrigo,

Partilhei contigo inúmeros momentos, incontáveis sentimentos, imensas alegrias, algumas tristezas.

A minha maior mágoa terá talvez sido quando regressámos a Portugal e fui viver com a Mãe, separando a nossa união perpétua, como um pacto de sangue que secretamente fizéramos. Passei a ver-te ao longe, embora estivesses sempre por perto. Foi doloroso e árduo, imaginar-te só, saber-te baralhado, confundido, atrapalhado, num mundo novo por descobrir. Ver-te a chorar na Praça de Algés onde fomos parar não sei bem porquê. Sei que tentei dar-te algum apoio, nesse e noutros momentos, talvez tenha pecado por escasso. Se assim foi peço o teu perdão.

Quando os nossos Pais se separaram recordo-me de ter decidido ficar com o Pai, na Suiça, não porque era o Pai ou a Mãe, para ser sincero e porque talvez na altura não percebia o que se passava, que estava a decidir uma vida e não um simples momento, mas sobretudo para estar junto de ti, continuarmos as nossas brincadeiras, aprofundar as nossas afinidades, para não nos separarmos.

Não me arrependo dessa decisão.

E foi assim que partilhámos muitos anos da nossa vida, muitos anos da minha vida, pois a tua existia ainda antes de eu pisar este mundo. Fizemos o caminho com felicidade, como deveria sempre ser, como um percurso dourado, brilhante e quente.

A única vez que nos chateámos a sério foi em Paris. Estávamos sozinhos em casa e começámos a discutir nem sei bem porquê, um assunto menor certamente, e de repente voaram estaladas. Passado algumas horas fui ao teu quarto pedir-te desculpas, não por achar que tinhas razão, mas para não ficarmos assim zangados, virados um contra o outro. Não as aceitaste.

Infelizmente o tempo e a idade tomaram conta de nós, das nossas vidas, das nossas amizades díspares, das nossas saídas em separado, dos cursos superiores distintos.

Tenho poucas certezas nesta vida, ando à procura de muitas respostas para muitas questões, como certamente tu andarás, mas tenho duas que ficarão comigo para sempre. A primeira é de que me sinto outro desde que nos separámos, diferente, algo em mim não está certo, parte de mim sente uma angûstia permanente que tem afectado a minha vida desde esse momento. A Catarina tem sentido na pele essa minha tristeza intríseca que dura e dura e dura. Não pedi pilhas Duracell para o meu coração. A segunda é um pouco o oposto, a felicidade extrema de seres meu irmão, de teres partilhado tudo comigo, de continuares a fazê-lo apesar da escassa comunicação vinda de mim, o orgulho que tenho em ti, no homem que te tornaste, na pessoa que és.

Tornei-me mestre em escrever textos lamechas à tua conta.

Espero que tenhas algum orgulho em mim também, nem que seja por ser teu irmão. Nem que seja por saberes que poderás sempre contar comigo, a qualquer minuto da tua vida, a qualquer passo que dês e para o qual precises da minha ajuda. Fazes parte de mim.

Rodrigo, o meu mundo sem ti não seria o mesmo, seria um espaço com menos luz, menos brilho. Apesar de não nos vermos muito, culpa minha certamente, eu sei que existes, que estás por cá, e isso reconforta-me o coração. Admiro a pureza que continuas a manter. Nunca a percas pois faz de ti o homem único e maravilhoso que és.

Amo-te bro.
Parabéns!

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Eu gostava que uma irma minha me escrevesse algo tao profundo e bonito como este texto.
Heartbreaking mas mto bonito.
Espero que quem te tem como irmao te dê o mesmo valor porque como costumo dizer, não há dois como tu.
És provavelmente a melhor pessoa que conheço.

bjs
babagnoush

17:49  
Blogger Bluedog said...

UFFF !!!! Tragam-me 43 lenços de papel, já...!

Ter dois filhos assim tão lindos ( os outros também o são, cada um à sua maneira ) diz a um Pai completamente babado que é um sortalhudo de primeiríssima ordem.

Vá lá, vamos dar-nos todos um abraço...

12:02  
Anonymous Anónimo said...

Gonçalo, está fantástico a carta aberta ao Rodrigo. Não acrescentava uma só virgula, não tiraria um ponto!
Não conheço a babagnoush, mas como conheço o tal "bro" ;) posso garantir que o sentimento é mutou, que a admiração é total e as saudades imensas!!
Parabéns pelo teu texto!!!

1bjinhos grd
inês

14:28  
Blogger Filipa e João said...

Então e eu????..... :)

Beijinhos aos dois, seus lamechas!
E ao Pai que nos fez a todos uns sentimentalões!

J.

22:33  
Anonymous Anónimo said...

Olá meu querido irmão! Amo-te muito! Chorei tanto ao ler o teu texto! Obrigado!

Sinto falta tua, falta da doce cumplicidade que nos unia, dos risos, das brincadeiras, dos disparates, dos choros, das zangas, dos abraços, dos olhares e da imensa ternura da tua compania!

A distância roubo-nos muita coisa!

Crescemos um pouco mais sós, sem a a companhia um do outro e isso não foi bom!

Passastes por momentos tristes, que guardaste para ti, mas eu apercebi-me e sofri de te ver infeliz!

Soubeste crescer e tornaste-te num Homem Bom, generoso, amigo, meigo!

Se te admiro? Claro que sim! desde sempre!

Todas as emoções que partilhámos, todos os momentos que passámos juntos, fazem parte de mim, fortalecem-me e fazem de mim um homem melhor!

Crescer junto a ti, ao teu lado, foi das melhores coisas que me aconteceram até hoje! Tive muita sorte!

Quero continuar a crescer ao teu lado! Quero contar-te as minhas alegrias, as minhas tristezas e os meus sonhos! Quero estar mais vezes contigo!

Um beijo muito grande meu irmão!

03:13  
Anonymous Anónimo said...

Hehehe!!
Estou muito orgulhosa!! Um marido, outro padrinho :)
Não podia estar melhor acompanhada ;)
Bjs aos 2

14:43  
Anonymous Anónimo said...

Nunca escrevi nenhum cometário.Nesta fase de mudança, poucas coisas interessam realmente. Queria apenas dizer obrigado por esta oportunidade de sentir que há sentimentos, verdade e pureza. Obrigado.Foi muito bom ver a vossa coragem para expressar essa luminosidade.A propósito, adoro este blog

15:53  
Blogger GoncaloCV said...

nimary, sejas bem vindo(a) ao meu Planeta, embora pelos vistos já passases por cá de vez em quando.

Os sentimentos existem em muita gente, é preciso é soltá-los, nem que seja de tempos a tempos.

18:11  
Anonymous Anónimo said...

Oá Meus Queridos
Como sabem. não gosto de expor os meus sentimentos em publico e um blog é tudo menos privado.
Teremos de falar em casa desta separação, causada pela nossa separação.
Agora e aqui, em público só posso dizer que vos adoro aos dois e que estou muito orgulhosa dos filhos lindos, sensiveis e inteligentes que tenho.
Nem hajam por serem meus Filhos.
Mãe

19:01  

Enviar um comentário

<< Home