21 abril 2010

Air Gama

Inês de Medeiros, deputada eleita pelo PS por Lisboa mas residente em Paris, conseguiu levar as suas intenções a avante e será o Parlamento, com a douta aprovação de Jaime Gama, a custear uma viagem por semana entre as duas capitais para que a Exma. Deputada possa exercer a função para a qual foi eleita.
Alguns pensamentos passaram pelo meu frágil cerebelo (uns mais enfurecidos e criminosos do que outros, confesso) quando li esta magnífica notícia hoje, sendo que de qualquer forma me apraz tecer os seguintes comentários:
1. Quem foi o imbecil socialista que se lembrou de convidar Inês de Medeiros, residente em Paris, para o círculo de Lisboa? Um incompreendido iluminado de certeza. Será Sócrates? Será Lacão? Chuva não é certamente, porque chuva não é tão estúpida assim.
2. Porquê que Inês de Medeiros, cujos dotes políticos se assemelham certamente à minha capacidade para dar toques na bola, poucos portanto, aceitou um tacho, perdão cargo, em Lisboa quando reside em Paris? Alguém lhe assegurou que as viagens seriam pagas pelo Parlamento, ou seja todos nós.
3. Porquê que a lei que regula a constituição das listas eleitorais, e que me perdoem se estarei em completa alucinação, não obriga a que um candidato tenha que residir no círculo a que concorre ou, no limite, vá lá, no próprio País em que concorre. É que se Inês de Medeiros residisse em Malé seria um pouco mais complicado.
4. Se o parlamento vai custear uma viagem por semana e se a Sra. Medeiros se recusa a ser ela a pagar as viagens, como tão prontamente afirmou, isso basicamente quer dizer que virá unicamente uma vez por semana a Lisboa. Aposto que uma dessas viagens será sempre no final do mês para receber o salário, por completo apostaria também, de deputada a tempo inteiro. Pois claro, a desfaçatez, quando acontece, não tem pejo em se repetir em contínuo.
5. Com que rigor e clarividência apresentará à Nação a deputada Inês de Medeiros os problemas dos Lisboetas? Sabe por acaso quais os problemas, de facto, desta cidade? É que não sei ao certo quantas vezes são referidos os problemas de Lisboa no Le Monde ou no Libération, mas sei que certamente serão escassas, para não dizer Nunca!
Senhores políticos, muitas vezes ouvimos V. Exas. a dizer "temos que perceber o povo", "sentir o pulso à nação" ou mesmo "ouvir os portugueses", pois bem aqui vos digo: vocês não passam de uns biltres palhaços, gatunos de fato e de facto.
É uma vergonha que o Parlamento, nós portugueses a quem são pedidos sacrifícios e mais sacrifícios, tenha que custear as viagens de uma deputada que nem sequer reside em território nacional. Uma vergonha, uma afronta, uma ignomínia, uma obscenidade, uma alucinação colectiva de uma classe que vive fora do contexto da sociedade que pretende gerir mas sobre quem cospe.
Os políticos apresentam a factura dos seus devaneios, o povo paga.
Para quando o dia em que pagarão a factura dos vossos comportamentos?