13 maio 2005

Pai

Carta aberta ao meu Pai

Querido Pai, eu sei que hoje não queres festejar, mas não podia deixar de abrir o meu coração e dedicar-te algumas palavras, alguns pensamentos e sentimentos que me ligam a ti.

Amo-te. É raro dizer isto a um homem, mas é verdade. Há mais alguns homens que verdadeiramente amo, são mais quatro para ser exacto, e três deles festejam também esta data comigo. São todos irmãos. Têm todos um pouco de ti, e portanto têm todos um pouco de mim.

Muitas vezes recordo os nossos momentos quando vivíamos juntos. Recordo o brilho no teu olhar quando me vias a brincar no jardim com o Rodrigo, o teu ar zangado quando vias as minhas notas, os nossos risos, as nossas lágrimas. Lembro-me também das viagens que fazíamos pelos percursos da Europa, dos caminhos que insistias em nos mostrar e que pensávamos “que grande seca, anda lá com isso pá!” mas que de facto eram belos e que efectivamente nos lembramos como bons momentos. Tenho em mim a memória das nossas conversas à noite quando os meus irmãos e a Luísa dormiam no carro nessas viagens e eu permanecia ao teu lado para que não adormecesses também. Lembro-me de te pedir uma mota quando nos mudámos para Paris, ficaste de me dar uma resposta que ainda aguardo. Posso? Fazias tudo para nos fazer felizes e não trazias os problemas do trabalho para casa. Suponho que os tivesses, como sei hoje que todos os temos, mas não os sentíamos e isso era bom. Ainda me rio com as tuas promessas de iniciar a ginástica “Vão ver, agora é que é, vou comprar uma máquina e agora é que vai ser”. Até hoje, mas não te preocupes que estás óptimo. Ainda ouço também o teu ressonar profundo. Acordar no meio da noite e pensar “chiça que raio da animal é que está lá fora?” e eras tu a dormir nos profundos abismos da sonolência. Não te preocupes, porque segundo ouvi dizer, hoje sou eu que habito esses abismos. Recordo também com amor, a mão que me deste após as minhas operações. Dizer-me ao ouvido que “vai tudo correr bem, vais ver”. Lembro também com profundo sentimento da Luísa a permanecer ao meu lado no meu quarto de Hospital, dia e noite. Talvez não lhe tenha dito nunca o quanto apreciei o gesto, o quanto significou para mim, o quanto ela significa para mim e o lugar especial que ocupa no meu coração.

Existem muitas outras memórias que guardo para mim, que certamente também terás, mas este espaço é demasiado curto para todas elas. Admiro-te como homem, como ser humano profundo, sentimental, um pouco nostálgico. Herdei isso de ti. És uma pessoa muito especial, porque és meu. Meu amigo, meu companheiro, meu parceiro, meu ídolo, meu fã, meu professor, meu apoiante, meu irmão, meu Pai.

E por isso tudo, e mais ainda, te amo.

Sei que por esta altura já deves estar com uma lágrima ao canto do olho. Temos igualmente isso em comum.

Parabéns Pai